quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Saudades


Trancar o dedo numa porta dói, bater com o queixo no chão dói, torcer o tornozelo dói... Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, doem cólica, cárie e pedra no rim.

Mas o que mais dói é a saudade... Saudade de um irmão que mora longe, saudade de uma cachoeira da infância, saudade do gosto de uma fruta que não encontra mais, saudade do pai que faleceu, do amigo imaginário que nunca existiu, saudade de uma cidade, saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.

Doem essas saudades todas... Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama, saudade da pele, do cheiro, dos beijos, saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir ao dentista e ela à faculdade, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã. Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter... Saudade é basicamente não saber. Não saber mais se ele continua fungando num ambiente mais frio, não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia, não saber se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados, se ele continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor, se ele continua cantando tão bem, se ele continua adorando o MC Donald's, se ele continua amando...

Saudade é não saber mesmo! Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber se ele está com outra, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não querer saber se ele está mais magro, se ele está mais belo. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer, saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo depois que acabou de ler...

"Em alguma outra vida, devemos ter feito algo de muito grave, para sentirmos tanta saudade".

 

Desconhecido